sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Webcam vira leitor de braile

Pesquisadores da UEPG apresentam inusitado sistema de tradução de braile
Reportagem Henrique Kugler
Divulgação
Em breve, o novo leitor de braile poderá estar nas escolas de todo o Brasil
Em breve, o novo leitor de braile poderá estar nas escolas de todo o Brasil

Setenta reais e mais uns trocados. Esse é o custo final de um inovador aparelho que poderá revolucionar a educação para deficientes visuais no Brasil. Trata-se de um leitor de braile, que pode traduzir sinais táteis da linguagem em alto relevo para algarismos da escrita convencional. O protótipo foi desenvolvido recentemente na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR), e ganhou o 3º Prêmio Werner Von Siemens de Inovação Tecnológica. De acordo com os pesquisadores, o grande mérito do projeto é associar facilidade de uso, simplicidade e baixo custo.

A boa sacada foi do atual vice-reitor da UEPG Carlos Luciano Vargas, que, ao reparar nos altos gastos da instituição com tradução de braile (há muitos estudantes cegos por lá), sugeriu que fosse desenvolvido um equipamento capaz de fazer isso a menores custos. Então conversou com seu colega Ariângelo Hauer, do departamento de informática, que gostou da idéia e logo apresentou o primeiro protótipo do tradutor.

“A idéia é muito simples”, garante Hauer. “Adaptamos uma webcam comercial, dessas que se compra em qualquer mercado, com um suporte de acrílico velho, tipo esses das caixinhas de Tic tac. Então, com uma mini-lanterna, é lançado um pequeno feixe de luz sobre os sinais em braile, gerando assim determinados padrões de luz e sombra sobre o papel.”

Por meio de uma ‘rede neural artificial’ (técnica de programação bastante conhecida pelos entendidos no assunto), um software projetado na UEPG identifica padrões de escaneamento e compara-os com um banco de dados. Assim a linguagem braile se traduz em linguagem convencional. “Após vários testes, nossa equipe conseguiu um índice de 90% em precisão de leitura”, comemoravam os pesquisadores.

O futuro do protótipo

Os pesquisadores já receberam recursos para dar continuidade ao projeto. A idéia, a partir de agora, é trabalhar na fabricação em maior escala. “Inicialmente queremos produzir mais uns dez ou doze protótipos, para que possamos então disponibilizá-los a algumas escolas espalhadas pelo estado”, diz Vargas.

“Queremos que o aparelho passe por um período de testes, em que os próprios professores deverão nos dizer como podemos melhorar o protótipo.” Mesmo sendo perfeitamente possível incrementar o novo leitor com sistemas mais sofisticados de leitura digital, os pesquisadores da UEPG reconhecem que o melhor a fazer é manter o projeto o mais simples possível. Afinal, a idéia é que o aparelho tenha um custo final acessível, para que mesmo as escolas mais pobres possam utilizá-los sem pesar no orçamento.

Educação para cegos

“O número de estudantes com deficiência visual nas universidades brasileiras é maior do que você imagina”, disse o vice-reitor da UEPG. No entanto, poucas são as instituições que estão preparadas para atendê-los – e menos ainda os professores que sabem ler braile.

Deficientes visuais normalmente freqüentam as mesmas classes que alunos sem essa limitação. Mas quando um aluno cego entrega uma prova ou trabalho em braile, o professor simplesmente não sabe como corrigir. Por isso encaminha-se o material para as associações locais - que irão traduzir os textos e reenviá-los ao docente. Somente então as tarefas podem ser corrigidas. “Isso cria uma defasagem de tempo muito grande entre o retorno didático que o professor dá ao aluno normal e ao seu colega deficiente”, explica Vargas.

Com o novo equipamento esse quadro será melhorado, pois o professor poderá corrigir as atividades dos alunos cegos juntamente com as demais. Tudo que ele deverá fazer é conectar o novo aparelho a um computador, e o conteúdo que o aluno escreveu em braile será imediatamente traduzido para um editor de texto comum.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, existem 45 milhões de cegos no mundo. No Brasil, o número de portadores de algum tipo de deficiência visual é de 16 milhões, e os que freqüentam as salas de aula são quase 40 mil.

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